Moi! O post de hoje é sobre uma das viagens mais esperadas desta temporada europeia. Sempre tive especial interesse nos países nórdicos, pois sou louca por design e um tanto curiosa para entender como nações que lidam com condições climáticas desfavoráveis conseguem se organizar de maneira tão precisa a oferecer qualidade de vida ímpar à sua população.
Fui à Finlândia participar do 14th Corporate Responsibility Research Conference, evento ocorrido em Tampere, segunda maior cidade do país, e sediado pela Business 2 Nature (B2N) Research Group, grupo de pesquisa da Tampere University, em associação com o the Sustainability Research Institute da University of Leeds, no Reino Unido e da KEDGE Business School, na França. Como comentei, o evento ocorreu em Tampere, cidade industrial a 180 quilômetros de Helsinque na qual eu nunca tinha ouvido falar, mas admito que fiquei impressionada pelo lugar e conto para vocês um pouquinho mais sobre ela.
Para quem não sabe nada sobre a Finlândia, o país está situado no norte da Europa; possui pouco mais de 5 milhões de habitantes, no qual grande parte da população está concentrada no sul do território. É o oitavo maior país da Europa em extensão territorial e o menos densamente povoado da União Europeia. As línguas oficiais são o Finlandês e o Sueco e a moeda local é o Euro, o único país nórdico que a utiliza. A Finlândia tem um história fascinante; fez parte da Suécia e do Império Russo, mas desde 1917 é um território independente, administrado por meio de uma república parlamentar com o governo central baseado em Helsinque, capital do país.
Cheguei à Helsinque pelo Helsinki-Vantaan lentoasema; aeroporto bom, moderno e cheio de lojinhas-desejo. O Aeroporto está longe do centro da cidade, mas oferece uma estação de trens com saída de comboios a cada 6 minutos em direção à estação central (trajeto de 30 minutos, em média). O ticket custa € 4,60 e pode ser comprado na própria estação por meio de totens práticos com instruções em diferentes idiomas. Acho que a primeira observação que devo fazer é que, apesar dos demais países nórdicos serem extremamente caros, achei a Finlândia um país ok; os preços dos produtos e serviços são semelhantes aos valores encontrados na Holanda, alguns deles significativamente mais baratos que no território neerlandês. Quer dizer, não dá para ficar animado, mas também não é um susto a cada esquina.
A primeira parada em Helsinque foi na Estação de Trens da cidade (Rautatieasema) que é, por si só um atrativo turístico. O Edifício foi inaugurado em 1919 em art-nouveau e foi elegida em 2013 como uma das estações ferroviárias mais bonitas do mundo, segundo a BBC. O interior é amplo, mas austero; não achei impressionante, pois prefiro algo mais rebuscado como a estação de trens da Antuérpia na Bélgica, mas gosto muito dos detalhes imponentes da fachada. Deem uma olhada…
Em Helsinque fiquei hospedada no Marski By Scandic; o Marski foi inaugurado na década de 1960 e rapidamente se transformou em um dos hotéis mais importantes do país. Recentemente recebeu uma completa reformulação e hoje faz parte do portfólio da rede de hotéis Scandic. É muito bem localizado, próximo de todos os principais atrativos. É lindamente decorado com elementos Art déco; moderno, colorido e de muito bom gosto. Quartos estilosos e extremamente confortáveis. Além de tudo, oferece uma academia completa e sauna (muito tradicional na Finlândia). O café da manhã é mara (como em qualquer país nórdico); achei tudo meio escuro, pois aprendemos que na hotelaria os ambientes devem ser claros e arejados, mas para mim combinou com o mood do hotel. Gostei e o recomendo! Deem uma olhada no meu apartamento aconchegante.
E vamos aos atrativos… Durante meu breve período em Helsinque visitei os seguintes atrativos:
Catedral de Helsinque (Suurkirkko): É uma catedral luterana situada no centro da cidade, na Praça do Senado. Foi originalmente construída como tributo ao czar Nicolau I da Rússia em estilo neoclássico. A Praça do Senado já é por si só outro atrativo, pois é ampla e congrega importantes edificações públicas como o edifício principal da Universidade de Helsinque e o Palácio do Governo, todos no mesmo estilo. A primeira foto abaixo é da Igreja.
Uma quadra acima está localizada a Casa das Propriedades (Säätytalo). Outro edifício lindo que abriga reuniões governamentais esporádicas e eventos diversos. Logo em frente está o Banco da Finlândia; deem uma olhada na Casa das Propriedades e no Banco da Finlândia.
Ao lado da Praça do Mercado encontra-se a Catedral Ortodoxa Uspenski (Uspenskin Katedraali), uma igreja cristã ortodoxa, herança da dominação russa no país. Foi construída numa das colinas mais altas da cidade em 1868 e é a maior igreja ortodoxa construída na Europa ocidental.
Já do outro lado da Praça fica o Esplanadi, um pequeno parque, como um boulevard, bem agradável rodeado de ruas com lojas, restaurantes e hotéis sofisticadas. Destaco o Café Kappeli, localizado no início do Esplanadi; o restaurantes é muito charmoso e um dos mais antigos da Finlândia, aberto em 1867.
Como comentei no começo do texto, Helsinque é conhecida como a cidade do design. Por essa razão, fiz questão de andar pelo Design District, uma região que abrange vários bairros do centro, incluindo Punavuori, Kaartinkaupunki, Kruunuhaka, Kamppi e Ullanlinna. A região oferece 200 butiques, ateliês, museus, galerias e cafés, além de marcas reconhecidas internacionalmente como Marimekko (AMO!), Arabia, Artek, Iittala, Nokia, etc. Ainda no Design District visitei o Museu do Design (Designmuseo), um espaço dedicado à exposição de design finlandês e estrangeiro, incluindo design industrial, moda e design gráfico. O Museu é um dos mais antigos do mundo, fundado em 1873, mas funciona hoje onde já foi uma escola, construída em estilo neogótico. O valor da entrada é € 12, mas sinceramente não achei que vale a pena. Achei-o muito pequeno, limitado, esperava muito mais! Segue abaixo uma foto da fachada do Museu e de parte do acervo.
Outro espaço que visitei foi Museu Nacional da Finlândia (Kansallismuseo), um local muito interessante que mostra as diferentes fases vividas pelo povo finlandês, desde a pré-história até hoje. Gostei muito, pois aprendi sobre a história e cultura finlandesa e, esse sim é um museu que eu recomendo! O acervo está disponível em outro edifício histórico construído em 1910. Na verdade, toda a região na qual o Museu está localizado é cheia de museus e edificações imponentes.
Por fim, meu último atrativo em Helsinque foi a igreja de Pedra (Temppeliaukio kirkko), uma igreja luterana construída no final da década de 1960. A maior parte da igreja é subterrânea, construída a partir de uma rocha maciça de granito, cujo interior foi extraído para dar forma às paredes. É o atrativo mais disputado da cidade com filas na entrada e o ingresso custa € 3. Interessante!
Depois de ter desbravado a pequena e charmosa Helsinque, tomei um trem (€ 21) em direção a Tampere. Tampere é a cidade mais populosa do interior dos países nórdicos; possui pouco mais de 200 mil habitantes e é um importante centro urbano, econômico e cultural da Finlândia central. É apelidada de “Manchester da Finlândia” devido ao seu passado industrial como antigo centro da indústria finlandesa. Durante meu tempo na cidade visitei os seguintes atrativos:
Moomin Museum (Muumimuseo): É dedicado a família Moomins, ilustrações feitas por Tove Jansson a partir da década de 1940 que é uma coqueluche na Finlândia e em outros países do mundo. Moomin é um troll semelhante a um hipopótamo que mora com Moominpappa e Moominmamma em Moominvalley. Tove Jansson escreveu mais de nove livros com o personagem; além disso, a artista também desenhou uma história em quadrinhos para jornais. As aventuras da família se transformaram em livros, desenhos animados e miniaturas. O Museu mostra o material multimídia original do Moomin Valley. Admito que nunca tinha ouvido falar do desenho até uma viagem que fiz a Hong Kong na qual tive uma breve conexão em Helsinque. Ao chegar no aeroporto finlandês, fiquei cismada com os produtos licenciados por todos os cantos do aeroporto e pesquisei o que era. Aí entendi a força das histórias, dos personagens e como eles são vistos como um símbolo do país. Voltando ao Museu, fiquei um pouco confusa com o espaço, pois não conheço o personagem a fundo, mas achei-o muito delicado e recomendo para todos os fãs da animação ou para o público infantil. O ingresso custa € 12.
Andei pela Praça Central de Tampere (Keskustori), uma praça pública no centro que dispõe de edifícios importantes como a prefeitura, a antiga igreja e o teatro. Segue uma foto da fachada da Prefeitura.
Ao lado da Praça está a antiga fábrica da Filayson. A fábrica de algodão foi fundada em 1820 e já foi uma das empresas industriais mais importantes dos países nórdicos. Hoje a área foi remodelada e abriga escritórios comerciais, restaurantes, cafés, lojas, museus e cinema.
Como estava muito envolvida com a programação do Evento, não tive a oportunidade de conhecer outros atrativos, mas sei que Tampere oferece vários museus e espaços interessantes para visita.
No entanto, durante o evento, fiz uma sauna finlandesa, um dos costumes mais tradicionais do país (fez parte da programação social do encontro). Também chamada de “banho finlandês”, é muito semelhante à sauna seca que temos em outros lugares do mundo. O mais incomum é que as pessoas são realmente assíduas da sauna e logo depois de torrar em um espaço acima de 60o.C, eles têm o costume de correr para o gelo ou dar um pulo em um lago gelado, pois acreditam que o resultado benéfico da sauna venha a partir do choque térmico. Muitos finlandeses tem saunas em casa e há uma piada na qual o finlandês constrói primeiro a sauna para depois construir a casa. É um espaço social onde pessoas de todas as classes, idades e gêneros se reúnem para relaxar, conversar e até mesmo discutir e fechar negócios. Foi muito legal a experiência, apesar das saunas finlandesas serem mais quentes que em outros lugares. É claro que não pulei no lago gelado depois da minha sessão, sou uma brasileira que tem pavor de água gelada, mas fica a dica!
Em Tampere fiquei hospedada Scandic Hotel Rosendahl, localizado ao lado do Lago Pyhäjärvi e do Parque Pyynikki, afastado do centro. Escolhi o Hotel, pois foi onde ocorreria a Conferência e achei que fosse mais cômodo pela questão logística. O lugar é ok; achei os apartamentos meio datados, mas oferecem uma boa piscina interna, academia, sauna, café da manhã completo e uma tarifa bacana. Não sei se o recomendaria, mas fica a dica para quem está procurando um empreendimento em Tampere e está fugindo do centro.
E assim terminou minha rápida passagem pela Finlândia. Como escrevi no começo do post, esse era um país que eu tinha muito interesse em conhecer e, por mais que eu tivesse grandes expectativas, a Finlândia conseguiu me surpreender. Tampere, mesmo sendo um centro industrial, é muito mais charmosa e conectada com a natureza do eu imaginava. As construções neoclássicas e art-nouveau são harmoniosamente mescladas às casinhas de madeira coloridas típicas do norte da Europa. E a proximidade com bosques, lagos e praia trazem uma sensação de simplicidade e contato com a natureza.
Helsinque, apesar de cosmopolita, consegue mesclar imponência e aconchego. Assemelha-se um pouco com Estocolmo, mas ao mesmo tempo é mais compacta, enxuta, mais simples. A vida anda mais devagar (quando comparada a grandes centros como Amsterdã, Londres e Paris) e é aquele tipo de lugar onde o transporte funciona bem (apesar de ter atrasos como eu qualquer lugar do mundo), impecavelmente limpo e organizado. O comércio faz um horário maluco que parece que só não faz sentido por mim e as regras são respeitadas de uma forma muito tranquila. As pessoas são super estilosas, sem fazer esforço; são educadas, mesmo que introspectivas, não falam Inglês com tanta propriedade como em outros países nórdicos, mas fazem questão de entender a todos e estarem presentes. Parecem muito tranquilas com o clima louco e com as condições desfavoráveis, andando na chuva e no vento como se nada estivesse acontecendo, enquanto eu parecia uma louca correndo apavorada procurando uma marquise para me esconder.
É impressionante como um país que foi dependente de outros territórios por tantos séculos conseguiu construir uma cultura própria e tão distinta; que mesmo com as diversas crises ao longo de sua história, inclusive problemas recentes, conseguiu se reerguer se tornando um dos melhores países do mundo para se viver. É engraçado ver como as bicicletas foram trocadas pelos descolados patinetes. É interessante ver uma sociedade onde as classes sociais representam muito pouco e onde todos se sentem parte de um todo; uma sociedade que privilegia a igualdade e a liberdade, mas que vive bem com regras definidas a fim de atingir um bem comum. Claro que nem tudo é perfeito… Durante meus dias na Finlândia vi vários bêbados e drogados perambulando pelas cidades tentando fazer contato e pedindo ajuda. Admito que me senti insegura em alguns momentos ou em alguns locais específicos. Além disso, os finlandeses admitem que mesmo com a aparente perfeição, o país enfrenta desafios diários. Mesmo assim, vi no geral tenacidade no olhar dos locais e uma vontade de procurar a felicidade nas coisas mais simples. Vi um povo ciente de sua história e de seus costumes e sem a mínima pretensão de impor aos outros o que é certo ou errado. Um povo que vive o presente, mas com um olhinho no futuro. Quem sabe um dia não aprendo com eles!
Espero que tenham gostado de mais um relato de viagem e me acompanhem na próxima aventura pelos países nórdicos. Segue abaixo um vídeo que fiz para o Youtube que mostra todo o trajeto. Ficou muito bacana!
Hei, hei!