Ainda com o objetivo de explorar a América, dessa vez resolvi ficar no Brasil e visitar o único estado do Nordeste que eu ainda não conhecia, o Sergipe. Sergipe é o menor estado brasileiro em extensão territorial; possui apenas 75 municípios e menos de dois milhões de habitantes. Faz fronteira ao sul com a Bahia, e ao norte com Alagoas. Fez parte do território baiano até 1820, e hoje como estado independente, explora diferentes atividades econômicas, entre elas o petróleo.
1º Dia – Aracaju
Nosso voo saiu de Curitiba no começo da manhã. Fizemos escala em Campinas e conexão no Rio de Janeiro. E do Rio tomamos outro voo até Aracaju. Gostaria de fazer uma ressalva especial para minha breve visita ao Aeroporto Antônio Carlos Jobim, ou Aeroporto Internacional do Galeão. O que é aquilo? Fiquei assustada com a desorganização e a quantidade de turistas, muitos deles perdidos, e outros desesperados. Estava pior que uma Estação Rodoviária em véspera de feriado! Sem contar os inúmeros atrasos e os voos cancelados. Se vocês acham que o Aeroporto de Guarulhos está cada dia pior, não passem pelo Rio de Janeiro. Cheguei a Aracaju no começo da tarde e nosso receptivo já estava nos aguardando. O Aeroporto da capital é pequeno, mas bem dimensionado, e suficiente para a demanda existente. Ficamos hospedados no Hotel Real Classic, um meio de hospedagem autodenominado luxo (na verdade é só um bom 3 estrelas), localizado na Praia de Atalaia. Atalaia é a região da capital sergipana com a maior infraestrutura turística. Possui vários meios de hospedagem, empreendimentos gastronômicos, operadoras turísticas, entre outros. E a orla da Praia é um capítulo à parte.

Acho que é a orla mais estruturada de todo o Nordeste. Ela é muito bonita, bem cuidada, e oferece várias atividades recreativas. À noite fomos a pé até a Passarela do Caranguejo. A Passarela é um rua em Atalaia onde é possível encontrar vários estabelecimentos dedicados à cozinha nordestina. Lendo os sites e blogs de turismo, imaginei que esta rua fosse o máximo, mas não é! É uma rua qualquer com restaurantes em apenas uma das vias, algo bem amador. Jantamos no Cariri, um restaurante quase que temático da cultura nordestina e famoso por sua casa de forró. Deem uma olhada na foto abaixo!

O lugar é simpático, sempre cheio, a comida é muito boa, mas os preços são meio salgados. De qualquer forma, é um local que vale a pena conhecer. Ainda visitamos algumas feirinhas de artesanato, e assim finalizamos nosso primeiro dia em Aracaju.
2º Dia – Aracaju
Acordamos cedo, pois tínhamos um city tour marcado às 09h15 pela cidade. Aracaju foi fundada em 1855 entre os Rios Poxim e Sergipe. Possui 580 mil habitantes e foi a segunda capital do estado, pois a princípio a cidade de São Cristovão exibia este título. Foi também a segunda capital planejada do Brasil, onde parte do centro da cidade tem a forma de um tabuleiro de xadrez. É a capital nordestina com menor desigualdade social (fato comprovado no dia a dia. Você não vê miséria em nenhum lugar da capital e não vê pedintes pela rua). O passeio começou em Atalaia onde tomamos a Avenida Beira Mar. A Avenida Beira Mar talvez seja a única avenida do mundo que não beira o mar. Ela beira um mangue que faz parte do Rio Poxim. A Avenida é uma graça, muito bonita e organizada. Nela podemos ver edifícios modernos e luxuosos dos bairros mais privilegiados da cidade; Jardins e 13 de Julho. Chegando ao centro da cidade, passamos pela Ponte do Imperador, um ancoradouro construído em 1859 para receber a visita de Dom Pedro II; e a Praça Fausto Cardoso, onde fica o antigo Palácio do Governo e outros edifícios públicos (dê uma olhada abaixo).

Nossa primeira parada foi no Mercado Municipal. Na verdade não é um mercado, e sim três. Eles vendem um pouco de tudo; artesanato, frutas, pescados, flores, e até animais. É um lugar interessante para conhecer parte da cultura nordestina. De lá fomos a Colina de Santo Antônio (olhe a foto abaixo), local mais elevado e de onde a cidade surgiu.
Visitamos ainda o Parque Teófilo Dantas onde fica a Catedral Metropolitana e o Centro de Turismo. Este último está localizado em um lindo prédio neoclássico do começo do século XX que abrigou a Escola Normal da cidade, e hoje está dedicado à venda de artesanato sergipano (olhe a fotinha à direita).
Um lugar imperdível para quem tem interesse em comprar bordados! Fechamos o passeio conhecendo a Praia de Aruana, no extremo sul da cidade. Almoçamos na República dos Camarões, um restaurante na Orla de Atalaia. Terminamos o dia no Shopping Jardins. Para quem tem interesse em visitar o shopping, o empreendimento oferece gratuitamente uma van que passa pelos principais hotéis de Atalaia. Vale a dica!
3º Dia – São Cristovão/ Laranjeiras
A primeira vez que me interessei pelo Sergipe foi em 2009 quando organizei uma palestra com o Secretário de Turismo do estado. Em uma conversa informal, ele tentou vender o peixe dele e me explicou brevemente os atrativos imperdíveis do estado, me instigando a conhecer o destino. Lembro-me dele ter citado duas cidades em especial, São Cristovão e Laranjeiras. A primeira era considerada uma das cidades mais antigas do país, e havia sido capital do estado. A segunda, também tinha grande importância histórica, mas era conhecida por ser um dos berços da cultura negra no Brasil. Portanto, quando cheguei a Aracaju, sabia que um dos passeios que eu teria que fazer era para esses dois destinos. Comprei o passeio como opcional, e paguei R$ 110,00 com o almoço (acho que é um preço quase que padrão para todas as empresas de receptivo de Aracaju). Saímos às 08h30 do meu hotel em direção a São Cristovão. A cidade foi fundada em 1590, e é considerada a quarta mais antiga do país. Foi capital de Sergipe até 1855, mas é importante politicamente já que a Universidade Federal – UFS e o Instituto Federal – IFS estão localizados no município. Está situada a pouco mais de 30 quilômetros de Aracaju, e seu principal atrativo é a Praça São Francisco, monumento tombado pela UNESCO. A cidade é pequena, e um pouco sem graça para quem conhece outras cidades históricas brasileiras, mas a praça é realmente linda (dê uma olhada na foto abaixo).

Visitei o Museu Histórico do Sergipe (muito fraquinho), a antiga Igreja e Santa Casa de Misericórdia (que de acordo com meu guia será transformada em uma pousada histórica), A Igreja Matriz Nossa Senhora da Vitória, Igreja e Convento do Carmo, e Igreja Nossa Senhora dos Homens Pardos. Mas o maior achado da cidade foram os doces da Casa da Queijada. Localizada na Praça da Matriz, esta loja é famosa pela qualidade dos doces. A Queijadinha e a Cocada de Forno são uma coisa de louco!!! Se visitarem a cidade, não deixem de comprar MUITOS DOCES. De lá fomos para Laranjeiras. A cidade está localizada a 19 quilômetros de Aracaju, e por uma manobra política, quase se transformou em capital do estado. Instituída como cidade em 1848, Laranjeiras é conhecida como a capital brasileira da cultura popular. Chegamos no meio do 38º Encontro Cultural, evento anual que celebra a cultura brasileira. Tive tempo de assistir uma das muitas apresentações. O festival estava vazio, possivelmente pelo horário que chegamos, mas era lindo ver os vários grupos folclóricos devidamente vestidos e prontos para se apresentarem (olha que graça os meninos abaixo!).

Visitei a Igreja Matriz Sagrado Coração de Jesus, a região do Mercado Municipal, Igreja da Nossa Senhora da Conceição dos Homens Pardos, etc. A cidade ainda conta com um Museu de Arte Sacra e o Museu Afro-Brasileiro de Sergipe, mas não tive interesse em conhecer. De qualquer forma, fica a dica! Laranjeiras tem um patrimônio histórico relevante, mas achei que ele é mal explorado. Muitas edificações precisam de restauração, falta sinalização turística, estabelecimentos gastronômicos típicos e específicos para o turismo, enfim, falta eles entenderem que podem ganhar dinheiro com o potencial que têm. Almoçamos já no meio da tarde em Aracaju no Restaurante Carne de Sol do Ramiro, um estabelecimento localizado na Avenida Beira Mar e que é especializado em comida nordestina. Bom! Ainda fomos conhecer o Shopping Riomar. Achei meio fraquinho para uma capital, mas é em minha opinião o melhor da cidade.
4º Dia – Aracaju
Hoje foi um dia super relax. Acordei mais tarde e não fiz nada pela manhã. Neste período meu pai foi conhecer o Oceanário de Aracaju. Mantido pelo Projeto Tamar, o Oceanário é um centro de visitantes com aquários de peixes, tubarões, entre outros. Custa R$ 12,00, mas tomem cuidado! Meu pais achou o lugar muito fraco! Eu conheci apenas a lojinha do local, e posso dizer que ela é mara! Voltei cheia de comprinhas. À tarde apenas aproveitei a Orla de Atalaia. À noite jantei em um restaurante chamado Maria Flôr. Também localizado na Orla, esse restaurante tem uma atmosfera bem descontraída, e muito brasileira. Oferece uma variedade de opções, desde a alta gastronomia, até pratos como tapioca e pizza. Eu pedi um risoto de lagosta (R$ 48,00). Meu prato não estava assim tão bom, mas estou recomendando o lugar, pois é um restaurante que vale a pena conhecer.

5º Dia – Cânion do Xingó
Hoje acordamos muito cedo, pois às 06h30 sairíamos para um passeio ao Cânion do Xingó. Situado no município de Canindé de São Francisco, a 213 quilômetros de Aracaju, e fronteira com o estado de Alagoas, o cânion faz parte de um vale com 65 quilômetros de extensão e 130 metros de profundidade. Está localizado no lago do Rio São Francisco, formado artificialmente devido à Hidrelétrica do Xingó. Comprei meu passeio na Nozestur, talvez a maior e melhor operadora turística da capital sergipana. Paguei R$ 117,00 por pessoa e o passeio incluía os trechos de ônibus e barco. Nosso passeio começou com um trajeto de ônibus até Canindé de São Francisco. São cerca de 3 horas de viagem. Chegamos a um atracadouro e tomamos o barco que nos levaria ao Cânion. O barco é uma história a parte! Ele possui um guia divertidíssimo que explica o percurso, e vende produtos do Xingó como fotos, música, e cachaça. O barco percorre por uma hora o Rio São Francisco e ao contrário do que eu imaginava, o Rio é lindo!!! As águas de tom verde escuro se misturam à vegetação do semiárido e formam uma deslumbrante paisagem. Quando chegamos ao Cânion, a paisagem fica ainda mais bonita. Mas o ponto forte é a parada para o banho. O local escolhido é uma fenda no meio das rochas onde o verde das águas se mistura ao alaranjado dos paredões (dê uma olhada na foto ao lado). Lá é possível fazer por apenas R$ 5,00 um passeio de barco por dentro dos paredões, ou gratuitamente nadar nas águas do Rio São Francisco. Fiz os dois!

Passamos uma hora no local. Voltamos ao barco, e às 14h30 já estávamos de volta para o almoço. Nosso almoço foi no Restaurante Karranca´s. É a única opção existente. Você pode escolher o Buffet (R$ 30,00), ou A La Carte. Como tínhamos um tempo curto para almoçar, nossa guia recomendou que escolhêssemos o Buffet. Não posso dizer que era maravilhoso, mas também não era ruim. Tinha muitas opções de pratos, e era bem limpinho. Ahhh! Deixa eu contar algo ligado à cultura inútil. Passando a fronteira com Alagoas, a primeira cidade alagoana se chama Piranhas. Além de ser uma cidade turística devido ao seu patrimônio histórico, é conhecida também por ser a cidade onde as cabeças de Lampião e de seu bando ficaram expostas após suas mortes. No meio da tarde voltamos para Aracaju. Chegamos às 19h30 no hotel. Estávamos quebrados. Mas valeu a pena! O melhor passeio até o momento!
6º Dia – Aracaju
Como o dia anterior havia sido muito cansativo, optamos por um passeio mais tranquilo. Pela manhã voltamos ao Mercado Municipal, pois queríamos comprar mais queijadinha e cocada de forno. Fomos de ônibus circular, então imagina a aventura?! Infelizmente não encontramos nenhuma tão gostosa como a de São Cristovão. 😦 Além disso, fizemos questão de passar pelos boxes que ofereciam frutas, pois queríamos ver se encontrávamos coisas exóticas. Mas não havia nada de muito diferente, a não ser saputi (éca!). Espantou-me quase não ver caju. E os poucos oferecidos eram muito pequenos e estavam machucadinhos. As goiabas e as bananas também não eram lá grande coisa. Após nossa visita ao Mercado, voltamos ao Centro de Turismo, pois tínhamos interesse nos bordados. Almoçamos pelo local. À tarde fui ao cinema.
7º Dia – Mangue Seco
Hoje acordamos novamente cedo, pois 08h iríamos para Mangue Seco. Localizado no município de Jandaíra, BA, faz fronteira com o estado do Sergipe e está a 79 quilômetros de Aracaju. Também comprei meu passeio com a Nozestur. Paguei R$ 81,00 por pessoa e o passeio incluía os trechos de ônibus e barco. Nosso tour começou com um trajeto de 1h15 até o atracadouro de barcos em Pontal, ainda no estado do Sergipe. De lá pegamos um barco que atravessaria o Rio Real. O passeio dura em torno de 45 minutos, e o melhor de tudo foi a seleção de músicas de Luiz Caldas. Escutamos Tieta, Haja Amor, Fricote, entre outras raridades. Era para entrar no clima! Vale destacar que em poucos dias este trajeto de barco será feito por uma ponte (ela já está pronta, só esperando a inauguração). Chegamos a Mangue Seco e pegamos um bugue (os nativos chamam de Bugre. Rsrsrsrs!). Ele é a única opção viável para chegar à praia. Custa R$ 80,00 (para quatro pessoas), e percorre parte das dunas de Mangue Seco. O trajeto é lindo, lindo, lindo!!!!


Tava me sentindo a própria Tieta. Chegando à praia, um grupo de crianças ofereceu cocada caseira, castanha de caju, e outras guloseimas nordestinas. Não seria nada estranho se elas não oferecessem todas essas opções com uma musiquinha divertida criada por elas. “Olha a cocada, bonita, cheirosa, gostosa, quem come uma não pára mais… um por três, dois por cinco, quatro por dez, oito por vinte…”. Não tinha uma pessoa que não ria ao escutar a música, e muita gente era motivada a comprar os produtos só por causa dela. A praia é cercada de restaurantes rústicos à beira mar. Estes estabelecimentos ofereciam banheiros limpos, opções gastronômicas, e até redes para descanso (nada mais baiano!). Passamos o dia todo em um deles. Almoçamos uma moqueca de peixe. O que era aquilo?! Muito bom! A praia é agradável. Ela é muito extensa e a água possui a temperatura perfeita (não que eu tenha entrado no mar. Vocês já sabem que é contra minha religião). No final da tarde, nosso bugue nos buscou e levou novamente para ao ponto de encontro onde tomaríamos o barco de volta. Chegamos ao hotel às 17h30. Esse foi outro passeio que valeu muito a pena! Mangue Seco é lindo demais! Recomendadíssimo! À noite comemos novamente na República dos Camarões, e fomos à inauguração da Feira do Sergipe, uma das mais tradicionais feiras de verão da capital. A feira é bem grande e oferece um artesanato mais elaborado. O mais legal da feira foi ver uma Orquestra de Sanfona, e Grupos de Dança Junina.
8º Dia – Aracaju
Hoje é nosso último dia, mas queríamos aproveitar cada minutinho que restava. Pela manhã, fizemos uma visita ao Palácio Olímpio Campos. Construído entre 1860 e 1863, o prédio foi sede do governo de Sergipe, e hoje abriga um museu que conta um pouco da história política do estado. Ele exibe ainda os cômodos usados pelos diversos governadores nestes últimos 150 anos.
O governador atual mora em sua residência pessoal, mas ainda recebe os chefes de Estado no Palácio. O lugar é muito bonito, extremamente bem conservado, e os guias são ótimos (dê uma olhada na foto ao lado). Vale dar uma passadinha! Minha segunda visita foi no Museu da Gente Sergipana. Inaugurado em 2011, o museu é patrocinado pelo Banese (Banco do estado) e está localizado em um lindo prédio de 1926 que abrigou o tradicional Colégio Atheneu Dom Pedro II. Tendo como curador a mesma pessoa que também coordena o Museu da Língua Portuguesa e o Museu do Futebol, em São Paulo, este museu interativo mostra o patrimônio imaterial do povo nordestino. Ele é muito diferente do que eu esperava; surpreende o visitante a cada instante, e é bem legal!

A lojinha do Museu também é mara, vale a pena uma visita! O melhor de tudo é que os dois museus foram na “faixa” (adoro quando encontro museus gratuitos). Almoçamos no hotel e à tarde nosso transfer já estava nos aguardando para o retorno à Curitiba. Cheguei em casa quase meia noite.
Sergipe foi uma surpresa! Se por um lado a cidade de Aracaju não tem as lindas praias de Maceió, ou a infraestrutura de Fortaleza, ela ganha nos quesitos qualidade de vida, tranquilidade e segurança. O povo é o mais bonito do Nordeste (na minha humilde opinião), simpático, e muito alegre. A comida é muito boa, mas não tão barata como os sites e blogs de turismo dizem ser. Comi tudo que eu tinha direito… e o que eu não tinha também. Ataquei algumas moquecas de peixe, de camarão, carne de sol, baião de dois, feijão tropeiro (diferente do prato oferecido no Sul), lagosta, manteiga de garrafa (originário da Paraíba, mas popular por aqui), etc. Além disso, ainda experimentei frutas exóticas como jamelão, mangaba, umbu, cajá e saputi. Mas o que mais me chamou a atenção não foram às pessoas ou a cozinha sergipana, e sim as belezas do Cânion do Xingó e de Mangue Seco. São dois atrativos especiais!!! E por isso, e por tantas outras coisas que essa viagem foi ótima. Recomendo a todos aqueles dispostos em conhecer um destino fora do Nordeste tradicional.
Curtir isso:
Curtir Carregando...