Sou uma incansável viajante e tenho uma lista de lugares que eu gostaria de conhecer. No entanto, por alguma razão a Ásia nunca esteve nos meus planos. Isso pode estar relacionado à nossa formação escolar centrada na Europa e nos Estados Unidos, a não familiaridade com a história e a cultura do continente ou simplesmente por uma falta de conexão. De qualquer forma, nos últimos anos tenho visto vários destinos asiáticos se destacando no cenário turístico e alguns deles, por alguma razão, passaram a chamar minha atenção; Hong Kong, sem dúvida estava nesta lista.
Hong Kong é uma das duas regiões administrativas especiais da China, quer dizer, faz parte do território chinês, mas possui suas próprias regras e leis. Está localizada no sul do país delimitada pelo delta do Rio das Pérolas e pelo Mar da China. Possui sete milhões de pessoas espremidas em um território pequenino, transformando-a em uma das regiões mais densamente povoadas do mundo. Foi colônia do Império Britânico por mais de 100 anos; ocupada pelo Japão durante a Guerra do Pacífico, e, desde 1997 voltou a fazer parte do território chinês. A grande maioria da população é chinesa e o idioma mais falado é o cantonês. A moeda local é o Dólar de Hong Kong e a cotação é de € 1 ≅ HK$ 8,40 (Maio de 2019). E aí vai minha primeira dica de viagem: As casas de câmbio possuem cotações diferentes, portanto pesquisem antes de trocar o dinheiro e se atentem que as piores casas de câmbio são sempre aquelas que fazem parte da franquia Western Union. #sincerona
Fui a Hong Kong participar do 2019 APacCHRIE & EuroCHRIE Joint Conference cum 4th Global Tourism and Hospitality Conference, um dos principais eventos mundiais sobre educação em Turismo e Hospitalidade. Foi um encontro realmente muito grande; 750 participantes de mais de 40 países e eu estava entre uma das três brasileiras. #orgulho
Como estou morando no norte da Holanda, não me preocupei tanto com a viagem em si, pois há voos diretos saindo de Amsterdã para a China, mas a verdade é que optei pela empresa mais barata e com os horários mais convenientes, portanto, voei com Finair com uma rápida conexão em Helsinki. Vamos dizer que a empresa é ok; boas aeronaves, opções de entretenimento limitadas e comida ruim.
O Hong Kong International Airport é muito bom, grande, espaçoso, bem sinalizado e completo; um dos melhores aeroportos que já conheci. Para chegar ao centro é possível optar pelo ônibus, trem ou táxi. O ônibus é, sem dúvida, a opção mais barata, mas leva tempo, pois há muitas paradas durante o trajeto e fica preso no intenso e insano trânsito de Hong Kong. O táxi é o mais cômodo, mas o mais caro e também perde muito tempo no trânsito. Portanto, eu optei pelo trem, pois é uma opção moderna, de alta velocidade que chega em 22 minutos a Estação de Kowloon, região onde se concentra grande parte dos meios de hospedagem de Hong Kong. Desta estação partem vários shuttles, ônibus gratuitos que levam os turistas aos principais hotéis da cidade. Achei-o prático, fácil e paguei HK$ 185 pelo trecho de ida e volta.
Para esta viagem eu precisava escolher um hotel especial, pois Hong Kong oferece as principais redes hoteleiras do mundo; possui vários dos melhores empreendimentos hoteleiros que unem tecnologia a um serviço de qualidade. O único problema é que a maioria destes estabelecimentos não cabe no bolso do turista padrão. Mesmo assim, há opções bacanas muito modernas, limpas, bem localizadas e com preços competitivos. Desta forma, devo dizer que a oferta hoteleira de Hong Kong pode atender todos os tipos de turista, é só procurar com cuidado. Fiquei hospedada no Icon Hotel, hotel escola da Hong Kong Polytechnic University, uma das melhores e mais respeitadas escolas de hotelaria do mundo. É um hotel moderno, super instagramável, bem localizado e que oferece os serviços e as facilidades de um hotel de luxo. A equipe jovem e entusiasmada está determinada a fazer o que for preciso para tornar a estadia memorável, mesmo que às vezes a inexperiência e o nervosismo sejam nítidos no rosto do staff. O Hotel oferece piscina aquecida, academia 24 horas e um spa administrado pela Banyan Tree, uma das marcas mais respeitadas na área de spa e bem-estar. Além de tudo isso, o Icon Hotel sediaria o Evento, portanto mais conveniente impossível. O empreendimento é realmente muito bom, o atendimento acolhedor, desde o momento da reserva ao check-out, inclusive ganhei um upgrade gratuito; o quarto é espaçoso e o banheiro, um sonho. No entanto, na minha opinião o setor de Alimentos & Bebidas deixou a desejar; achei o café da manhã bem normal, o brunch muito ruim (mesmo custando um bom dinheiro!) e a alimentação servida durante o evento, incluindo o Gala Dinner, normal. Recomendo o Hotel? Claro! Mas estejam cientes que comida não é seu ponto forte. Segue abaixo algumas fotos do empreendimento para que vocês entendam minha empolgação.
Ao contrário das outras viagens que contei meu tour pelos dias, vou contar esta jornada pelos atrativos, pois grande parte da semana estive envolvida nas atividades relacionadas ao evento.
Hong Kong Free Tour – É formada por pessoas que moram em Hong Kong e por meio de diferentes passeios mostram os principais atrativos da cidade. O conceito do tour é o seguinte; eles oferecem o melhor que eles podem e vocês decidem quanto vale o passeio. A empresa oferece vários programas e escolhi o mais básico que se concentra na Ilha e explica sobre as peculiaridades de Hong Kong como um território especial da China e ex-colônia britânica. Durante o passeio visitamos: Government HQ, Tamar Park, PLA Building, Prefeitura, Corte de Justiça, Edifício do HSBC e Bank of China, todos localizados no coração do centro financeiro; Queen’s Road e terminamos o tour na Catedral de St. John. O passeio sai todos os dias às 10:00 da Admiralty Station e dura em torno de duas horas e meia. É tudo muito fácil; saindo da Estação, procure os guias que estão vestindo camisetas ou jaquetas amarelas escrito “The Hong Kong Free Tours”. O passeio é conduzido em língua inglesa e recomendo! Acrescento que caso tenham interesse, a empresa oferece outras opções como uma visita à Kowloon e Food Tour. Deem uma olhada em algumas fotos que tirei durante o passeio. A útima foto é da Catedral de St. John.
Hong Kong Museum of History – Localizado em um edifício moderno, o Museu mostra a história de Hong Kong de uma maneira didática e interessante, descrevendo a fauna e flora local, a cultura popular e sua evolução ao longo de 400 milhões de anos. É um museu um pouco confuso com subidas e decidas e a parte que trata sobre o entorno natural e Hong Kong pré-histórica é meio chato, mas depois o Museu fica incrível, pois mostra a evolução da China com cenários, objetos e músicas. Fiquei encantada! O melhor é que a entrada é gratuita (Adoro museu gratuito!) Deem uma olhada em algumas fotos tiradas no interior do Atrativo.
Avenue of the Stars – Reaberto em 2019, o atrativo tem mais de cem marcas de mãos de celebridades chinesas. Como eu não conheço nenhuma delas, já fiquei satisfeita em ver uma estátua do Bruce Lee. O melhor do atrativo é, sem dúvida, a vista do skyline da Ilha de Hong Kong. Bonito a qualquer hora do dia!
Grande parte dos atrativos que eu mencionei podem visitados a pé, mas se andar não é seu forte, a cidade oferece uma malha rodoviária e ferroviária muito boa. O metrô é barato e rapidíssimo; sempre lotado, mas por algum milagre da natureza funciona perfeitamente bem.
O restante do meu tempo passei andando pelas ruas e shoppings de Hong Kong; a cidade possui uma infinidade de lojas e centros comerciais. Lá encontra-se todas as marcas possíveis e impossíveis e uma infinidade de produtos (alguns até de gosto duvidoso!). Caso estejam pensando em fazer comprinhas, acho prudente avisá-los que os preços dos produtos em Hong Kong são mais caros que na Europa e nos Estados Unidos, portanto, só vale a pena comprar algo que vocês tenham amado ou que não encontrariam facilmente em outros mercados. O maior shopping da cidade é o Harbour City e ouso a dizer que é o segundo maior shopping do mundo (perdendo apenas para Dubai!), pois não tem fim, mas há um centro comercial em cada esquina e para todos os bolsos. Eu comprei basicamente alguns cosméticos japoneses e coreanos (e outro produtinho que está me dando uma dor de cabeça danada que é melhor nem mencionar) que não teria acesso na Europa.
Ainda sobre os atrativos turísticos, caso estejam passeando por Hong Kong, não deixem de passar pelo Kowloon Park, um pulmão verde na parte continental do destino.
Deem uma volta no charmoso 1881 Heritage, o antigo quartel general da Polícia Marítima, transformado em uma praça de compras, espaço com restaurantes e um hotel boutique.
E passem pelo magnífico Xingu Centre, um moderno centro cultural.
Também não deixem de experimentar as sobremesas asiáticas (nunca vi tanta loja de doces no mundo e o hype do momento são as sobremesas com matchá, o famoso chá japonês) e comam nos restaurantes de Hong Kong, pois a cidade oferece os melhores e mais renomados restaurantes que vocês podem imaginar. A comida não é barata, na verdade, nada é barato naquela terra; é o preço que eu pagaria em um restaurante médio na Holanda. No entanto, tudo faz parte da experiência.
A parte mais aventureira de toda a viagem foi minha rápida visita a Macau. Quando ainda estava em Leeuwarden e havia comentado com meus colegas de trabalho que iria a Hong Kong, todos diziam que eu deveria passar um dia em Macau. Que era muito simples, só pegar uma balsa e que valia a pena. Admito que fiquei com medo, pois era minha primeira vez em um território tão diferente do meu, com uma língua tão diferente de tudo que eu tinha conhecimento e tomar uma balsa e chegar à um outro lugar não me pareceu assim tão simples. Enfim… Chegando em Hong Kong, a vontade de conhecer Macau ficou ainda maior; procurei empresas de turismo que faziam o passeio, pois é sempre a forma mais segura e confiável, mas os tours custavam em torno de HK$ 1200 a HK$1400. Achei muito caro! (A minha versão mão de vaca falou mais alto). Portanto, em um impulso de coragem resolvi fazer o passeio sozinha e admito que foi fácil, prático e mais barato. Pela manhã fui ao China Ferry Terminal em Tsim Sha Tsui, na área do continente onde estão grande parte dos hotéis e comprei um ticket de ida e volta. Há algumas empresas que vendem este tipo de passeio, mas adquiri o bilhete com a Turbojet, recomendada pelo recepcionista do hotel no qual estava hospedada. Passei pela imigração. E aí vem a segunda dica de viagem: Sim! É necessário viajar para Macau munido com seu passaporte, pois estará saindo da região especial de Hong Kong e entrando na região especial de Macau. É como se fossem dois países diferentes, com leis de imigração distintas, mesmo fazendo parte da China. O Terminal parece como um aeroporto com portões e chamadas de embarque. Além disso, o barco (que é muito confortável, como os barcos que fazem o trecho de Nápoles a Capri na Itália) também tem assentos marcados e precisamos usar o cinto de segurança.
Para quem nunca ouviu falar de Macau, a Ilha é uma das regiões administrativas especiais China desde 1999. No entanto, Macau foi colonizada e administrada por Portugal durante mais de 400 anos e é considerada a primeira e última colônia europeia na Ásia. Possui pouco mais de meio milhão de habitantes, sua moeda é a Pataca e aí vem a confusão, pois a cotação da Pataca é muito similar ao Dólar de Hong Kong. Todo o comércio de Macau recebe Dólar de Hong Kong, mas o troco é sempre dado em Pataca, que infelizmente só é aceito por lá. A economia de Ilha é em grande parte baseada no turismo e nos cassinos.
Chegando à Macau, peguei um táxi e fui ao centro da cidade. Neste período do dia visitei os seguintes atrativos: o Largo do Senado, coração do centro histórico e é onde estão localizados as principais edificações em estilo colonial português; ele nos remete à Portugal, ou mesmo ao centro de algumas cidades brasileiras. Era onde ficavam os antigos edifícios administrativos da Colônia e, assim como vários atrativos de Macau, foi declarado Patrimônio Cultural pela Unesco em 2006.
Visitei a Igreja da Santo Domingo, a Igreja da Sé e as ruínas de São Paulo. Esta última é um dos atrativos mais famosos da cidade; a igreja Madre de Deus e o Colégio São Paulo foi construída no século XVI, mas destruídas por um incêndio no século XIX. Local sempre lotado de turistas!
Logo ao lado está localizado o Museu de Macau. Situado em um forte construído por padres jesuítas no séc. XVII, o Museu é o lugar mais importante para o visitante conhecer a história da cidade. Conta desde a cultura chinesa, a vida em Macau como colônia portuguesa e destaca a mescla entre estas duas culturas. Gostei muito e o recomento. Na terça-feira as visitas ao Museu são gratuitas.
Também fui ao Templo A-Má. O espaço já existia antes da chegada dos portugueses; a primeira estrutura foi construída ainda no século XV. Os vários pavilhões são dedicados à veneração de diferentes divindades. Outro local com entrada gratuita e o recomendo para conhecerem um pouco mais da diversa cultura chinesa.
Peguei novamente um táxi e fui à Cotai, uma outra região de Macau onde estão localizados os cassinos. Neste período, visitei o Venetian Macao, o maior cassino do mundo, o Four Seasons, o Parisian (outro cassino impressionante) e o Sheraton Grand Macao Hotel. Segue abaixo algumas fotos do Venetian Macao.
E da riqueza do Parisian:
Todos estes cassinos, além de muitos outros, estão localizados em uma grande avenida chamada de Cotai Strip, uma referência à Strip, a principal rota dos cassinos em Las Vegas nos Estados Unidos. É impressionante a magnitude das construções, a qualidade dos materiais utilizados, o tamanho dos cassinos, o tamanho dos shoppings e a opulência dos edifícios. Enfim… É um atrativo turístico muito divertido para quem quer uma distração “a la Disneylândia”. Eu adorei! No final do dia peguei o shuttle, um ônibus gratuito oferecido pelos hotéis para o aeroporto e os portos da cidade e, no início da noite, já estava de volta a Hong Kong. No final da minha aventura gastei HK$ 600 com todas as refeições incluídas!
Surpreendi-me o Macau, pois é uma Ilha que respira história e cultura. Há uma mistura muito flagrante da cultura do Oriente e do Ocidente e fiquei muito feliz por ter tomado a decisão de tê-la conhecido sozinha. Fiz tudo no meu tempo, do meu jeito. Foi fácil, seguro e me senti imbatível por fazer essa visita em um território onde ninguém falava a minha língua (mesmo sendo uma ex-colônia portuguesa, ninguém fala português por lá). Minhas dicas são: Não deixem de comprar os vários doces locais e experimentar o pastel de nata. Admito que eles são bem ruins quando comparados as iguarias verdadeiramente portuguesas, mesmo da marca mais badalada que tem o David Beckham como garoto propagando (o que o pobre David vai saber sobre Pastel de Natas, não é?!), mas ainda assim vale a pena pela experiência.
E assim termino mais um post. Admito que desta vez fiquei na dúvida se escreveria este relato, pois Hong Kong não é o tipo de cidade que tem que ser contada; ela tem que ser vivida. É lotada, caótica, mas muito limpa. É diferente de tudo que eu já vi, mas, ao mesmo tempo, ela me remetia a algum lugar familiar. A cultura chinesa está presente a todo momento, mas também é uma cidade muito internacional. Enfim, é um destino de extremos e de sentimentos múltiplos; em alguns momentos te traz supressa, em outros monotonia. Em alguns momentos te traz ânimo, em outros te esgota. Fiquei muito feliz de tê-la conhecido e de saber que meu pezinho pisou em mais uma parte do mundo.
Espero que tenham gostado da aventura e nos encontramos em uma nova viagem!
Para aqueles que tem interesse em ver a viagem com mais detalhes, assistam o vídeo do Youtube que mostro cada um dos lugares que conheci durante esse período.